7 de novembro de 2011

RELIGIÃO DOS CELTAS, O CULTO, OS SACRIFÍCIOS E A IDEIA DA MORTE

A obra dos druidas, demonstra toda a extensão de sua ciência e de sua erudição. Mas não é somente na sua doutrina que ocorre o sopro poderoso da inspiração: é também sua religião, seu culto que revela um sentido profundo do mundo invisível e das coisas divinas. Nesse ponto de vista é preciso refutar as críticas e os erros sob os quais se tem querido enterrar o Druidismo.
Como atestam os historiadores como A. Thierry, Henri Martin, Jean Reynaud, toda a grandeza do gênio céltico se apresenta nessa obra. Na base da instituição druídica encontram-se estes dois princípios que se irradiam sobre a sociedade gaulesa e dela fazem mover todas as engrenagens: a igualdade e o direito eleitoral.
Todo gaulês podia se tornar druida, o nascimento não dava nenhum direito a esse título, porque a antiga Gália nunca conheceu a hereditariedade. Para adquiri-la, para obter a iniciação, era preciso justificar os méritos pessoais, além de lentos e pacientes estudos, pois os celtas colocavam a instrução em primeiro lugar na sociedade e só isso já bastaria para afastar a acusação de barbárie que tão levianamente dirigem aos nossos antepassados.
As informações que damos sobre a organização do Druidismo provêm, em grande parte, de autores latinos e gregos, no total de dezoito, sejam filósofos e historiadores, sejam geógrafos e poetas.
Além de César, citamos Aristóteles e Cétion, Diógenes de Laerte, Posidônio, Cícero, no ano 44, Diodoro de Sicília, ano 30, Timogéne, pelo ano 14, em uma História da Gália, da qual Ammien Marcellin nos deixou um extrato; Estrabão, no ano 20 d.C.; Pomponius Méla, no ano 40; Lucano, entre 60 e 64, Plínio, o naturalista, pelo ano 77; Tácito, pelo ano 96; Suetônio, no fim do século I; Díon Crisóstomo, no início do século II. 
O chefe dos druidas era eleito pela corporação inteira e investido de um poder absoluto. Era ele que resolvia as divergências entre as tribos turbulentas, agitadas, sempre prontas a recorrer às armas. Estando acima das rivalidades dos clãs, essa instituição representava a verdadeira unidade da Gália. Toda a elite juvenil da nação se agrupava em volta desses filósofos, ávida de receber seus ensinos que eram dados longe das cidades, no interior dos recintos sagrados.
Os druidas não só mantinham a justiça nas tribos, como também se pronunciavam sobre as causas graves, em uma assembléia solene que se reunia todos os anos no país de Chartres. Essa assembléia tinha ao mesmo tempo um caráter político, e cada república gaulesa a ela enviava seus delegados.
O gênio religioso dos celtas tinha estabelecido três formas superpostas de crenças e de culto em relação com o grau de aptidão e de compreensão dos gauleses. Inicialmente era o culto dos espíritos dos mortos, ao alcance de todos e que todos praticavam. Depois vinha o culto popular dos semideuses ou espíritos protetores das tribos, símbolos das forças da natureza ou das faculdades do espírito; esse culto tinha sobretudo um caráter local. Finalmente, havia o culto do espírito divino, fonte e criador da vida universal, que domina e rege todas as coisas e cujas obras são o principal objeto dos estudos e pesquisas dos druidas e dos iniciados.
Na realidade, o politeísmo gaulês, que se condena como sendo uma idolatria, não era senão a representação dos espíritos tutelares, guias, protetores das famílias e das nações, dos quais nós podemos constatar, hoje em dia, pelos fatos, a existência e a intervenção nas horas necessárias. O mesmo se deu em todas as religiões antigas e nas crenças dos povos que colocavam na classe dos deuses os espíritos daqueles que eram distinguidos pelos seus méritos e suas virtudes. O povo tem necessidade de crer nos intermediários entre ele e Deus infinito e eterno, que ele imagina estar bem afastado, embora todos estejamos mergulhados nele. Em todos os países, vários seres simbólicos, concebidos pela imaginação dos seus primeiros homens, são, sob formas materiais, graciosas ou terríveis, a expressão viva de seus temores e de suas esperanças.
Os druidas, dizíamos, ensinavam a unidade de Deus. Os romanos, pervertidos nesses assuntos, confundiram os personagens secundários do céu gaulês, as personificações simbólicas das potências naturais e morais, com seus próprios deuses. O Panteão gaulês apresenta mais frescor e beleza do que os deuses envelhecidos do Olimpo. O Teutatès gaulês era uma representação das forças superiores; Gwyon representava a ciência e as artes; Esus o símbolo da vida e da luz. Outros, como Hu-Kaddarn, chefe da grande migração “kymris”, eram heróis glorificados. Mas, nesse Panteão não se encontravam os deuses do mal, os ídolos do Egito e de Roma. Ali não se viam os deuses infames, um Júpiter adúltero, uma Vênus lasciva, um Mercúrio corrompido. Também não se encontrava esse cortejo imundo dos Bacos, dos Priapos, isto é, os vícios endeusados. Conhecia-se somente a sabedoria, a virtude e a justiça. E mais alto, acima dessas forças intelectuais e morais, resplendia o foco de onde todas elas emanam, a potência infinita e misteriosa que os druidas adoravam ao pé dos monumentos de granito, na solidão das florestas. Eles diziam que o ordenador do imenso Universo não poderia estar preso entre as muralhas de um templo, que o único culto digno dele devia cumprir-se nos santuários da natureza, sob as abóbadas sombrias dos grandes carvalhos, à beira dos vastos oceanos. Eles afirmavam que Deus era muito grande para ser representado por imagens, sob formas modeladas pela mão do homem. Por isso, eles somente lhe consagravam monumentos de pedra bruta, dizendo que toda pedra talhada era uma pedra maculada.
Assim, todos os símbolos religiosos dos druidas eram emprestados da natureza virgem, livre. O carvalho era a árvore sagrada, seu tronco colossal, seus possantes galhos representavam o emblema da força e da vida. O visco, que era retirado com pompa, o visco sempre verde, mesmo quando a natureza adormece, quando os vegetais parecem mortos, era, para seus olhos, o emblema da imortalidade e, ao mesmo tempo, um princípio regenerador e curativo.
Esses ritos do Druidismo, esse culto sóbrio e grande, não teriam alguma coisa de imponente? As matas de carvalho, o visco renascente sobre os troncos carunchosos, as grandes rochas de pé, na beira do oceano, eram, do mesmo modo, símbolos da eternidade dos tempos e do infinito dos Espaços.
O Catolicismo parece ter tomado emprestado do culto druídico o que há de mais nobre e belo. Os pilares e as naves das catedrais góticas são a imitação dos troncos esbeltos e dos galhos dos gigantes das florestas; o órgão, pelos seus sons, lembra o sussurro do vento na folhagem; o incenso é o vapor que se eleva das planícies e dos bosques ao surgirem os primeiros raios solares.
O Druidismo era o culto do imutável, do que permanece, em uma palavra, o culto da natureza infinita, dessa natureza fecunda no seio da qual todo espírito se revigora, se viriliza, reencontra as forças naturais.
Para nós, como para nossos antepassados, os espetáculos que ele oferece são as fontes de meditação salutares, de ensinos pelos quais se revela o Deus imenso, eterno, que os celtas adoraram, Deus, alma do mundo, “eu” consciente do Universo, foco supremo em direção do qual convergem todas as ligações e de onde se irradiam, através dos espaços sem limites e dos tempos sem demarcações, todas as potências morais: o Amor, a Justiça, a Verdade e a Infinita Bondade!
* * *
Uma sombra, porém, se estende sobre o Druidismo. A história nos ensina que os sacrifícios humanos se cumpriam sob os grandes carvalhos, o sangue corria sobre as mesas de pedra. Talvez esteja aí o erro capital, o lado imperfeito do culto, tão grande em outros pontos de vista. Não esqueçamos, entretanto, que todas as religiões, na sua origem, todos os cultos primitivos tinham o sacrifício do sangue.
Ainda hoje, cada manhã e em todos os ambientes do mundo católico o sangue do Cristo não jorra sobre o altar, pela voz do padre? Com efeito, ante os olhos dos crentes isso não é uma simples imagem, é o corpo e o sangue do grande crucificado que lhes são oferecidos. O dogma da presença real é, para eles, absoluto. Se alguma dúvida subsiste em certos espíritos, meditemos nestas palavras de Bossuet:
“Por que os cristãos não conhecem mais o santo pavor de que eram tomados outrora ante o sacrifício? Será que ele cessou de ser terrível? Será que o sangue de nossa vítima não corre mais a não ser sobre o Calvário? 
Além do sacrifício sangrento da missa, é preciso ainda lembrar os suplícios e as fogueiras da inquisição, todas essas imolações que não são somente atentados à vida, mas também ultrajes à consciência?
Esses sacrifícios não são mais odiosos do que aqueles dos druidas, onde somente figuravam criminosos e vítimas voluntárias? É preciso lembrar que os druidas eram magistrados e justiceiros. Os condenados à morte, os assassinos, eram oferecidos em holocaustos àquele que era para eles a fonte da justiça.
Era um ato sagrado e, para torná-o mais solene, para permitir ao condenado refletir em si mesmo e preparar-se para o arrependimento, eles deixavam sempre um intervalo de cinco anos entre a sentença e a execução. Essas cerimônias expiatórias não seriam mais dignas do que as execuções de nossos dias, onde vemos um povo, que pretende ser civilizado, passar as noites ao redor das guilhotinas, atraído pelo chamariz de um espetáculo horrível e de impressões nocivas?
Os sacrifícios voluntários entre os gauleses revestiam-se também de um caráter religioso. Seus sentimentos profundos de imortalidade faziam com que se entregassem facilmente aos nossos antepassados. O homem se oferecia como uma hóstia viva pela família, pela nação, pela salvação de todos. Mas todos esses sacrifícios caíram em desuso e tornaram-se bem raros no tempo de Vercingétorix. Em lugar de matar, contentavam-se em tirar algumas gotas de sangue dos fiéis estendidos sobre a pedra dos dolmens.
* * *
Umas das características da filosofia céltica é a indiferença pela morte. Sob esse ponto de vista, a Gália era um objeto de admiração para os povos pagãos, os quais não possuíam, no mesmo grau, a noção de imortalidade. Nossos antepassados, não receando a morte, certos de viver no além-túmulo, estavam libertos de todo temor.
Em nenhuma crença encontra-se um sentimento tão intenso do invisível e da solidariedade que une o mundo dos vivos ao dos espíritos. Todos aqueles que deixavam a Terra o faziam carregados de mensagens destinadas aos mortos. Diodoro de Sicília nos deixou esta passagem preciosa: “Nos funerais eles depositavam as cartas escritas aos mortos, pelos seus parentes, para que elas lhes fossem transmitidas”. A comunicação dos dois mundos era coisa comum. Pomponius Méla, Valério Máximo e todos os autores latinos que nós citamos dizem que entre os gauleses “emprestava-se dinheiro para ser reembolsado no outro mundo”.
Se, como no exemplo de nossos ancestrais, consideramos a morte como um véu, uma simples cortina que pende sobre o caminho que percorremos, véu de grande efeito para nosso olhar, que ele detém, mas impotente para impedir a nossa marcha que não pára; se compreendemos que só se trata de abandonar esse corpo usado para nos encontrarmos em nosso manto fluídico permanente, essa morte, tão temível para aqueles que nela vêem o aniquilamento, nada teria de espantoso para nós.
Os druidas tinham um amplo conhecimento da pluralidade dos mundos. Sua fé na imortalidade lhes apresentava as almas, libertas dos liames terrestres, percorrendo os espaços, reunindo os amigos, os parentes que partiram antes delas, visitando com eles os arquipélagos estelares, as esferas inumeráveis onde desabrocham a vida, a luz e a felicidade.
Que espetáculos, que maravilhas representam para nossa vista esses mundos longínquos, que variedade de sensações que se podem recolher desses universos! E essas almas prosseguem sua viagem na imensidade, até que, submetidas à lei eterna, retomam órgãos novos, se fixam sobre um desses mundos para cooperar, pelo trabalho, para o seu adiantamento, para o seu progresso. Ante esses horizontes imensos, como nossa Terra fica pequena! E, diante de tais perspectivas, pode-se temer a morte?
Os gauleses não conheciam, então, os infernos sinistros nem os paraísos de imobilidade. As vidas de além-túmulo eram, para eles, repletas de atividade, fecundadas por uma faina constante, vidas onde a personalidade e a liberdade do ser se desenvolviam e se aperfeiçoavam incessantemente.
É isto que diz Lucano para os druidas, no primeiro canto de A Farsália:
“Para vós, as sombras não estão enterradas nos reinos sombrios de Plutão, mas a alma voa para animar outros membros em mundos novos. A morte nada mais é do que o meio de uma longa vida. Felizes são os povos que não conhecem o temor da morte. Daí seu heroísmo no seio das disputas sangrentas, seu desprezo pela morte.”
Horácio definia a Gália nestes termos: A região onde não se sofre o terror da morte.
Não haveria um contraste chocante entre esta crença máscula e poderosa e a idéia da eternidade dos suplícios ou daquela, não menos importuna, do aniquilamento absoluto? A fé na sobrevivência era a essência do Druidismo, e deste ponto de vista decorria uma ordem política e social fundada nos princípios de igualdade, de liberdade moral.
Essa mesma fé inspirava também as práticas, as cerimônias fúnebres, tão diferentes das nossas. Nós, modernos, temos por nosso corpo uma complacência infinita; os gauleses consideravam os cadáveres como ferramentas quebradas, apressavam-se em dar-lhes fim. Freqüentemente eles queimavam os corpos, recolhendo as cinzas em urnas. Nós estendemos a credulidade até crer, com o Catolicismo, que nossa alma está ligada a esses resíduos e que um dia ela ressuscitará com eles!
Mas o tempo zomba de nossa cegueira e sejam nossos restos enterrados sob o mármore ou sob a pedra, sempre chega uma hora onde, pó, eles retornam ao pó, onde a grande lei cíclica dispersa seus átomos.
Um dia que está próximo, quando estaremos mais esclarecidos sobre nossos destinos, nós não suportaremos mais esse aparato e esses cantos lúgubres, todas essas manifestações de um culto que responde tão pouco à realidade das coisas.
Penetrados, como nossos antepassados, pela idéia de que nossa vida é infinita, de que ela se renova incessantemente em diversos meios, nós veremos na morte somente uma transformação necessária, uma das fases da existência do progresso.
É dos gauleses que nos vem a comemoração dos mortos, essa festa do dia dois de novembro que caracteriza o nosso povo entre todos. Só que, em vez de comemorar, como nós, nos cemitérios, entre túmulos, era no lar que eles celebravam a lembrança dos amigos afastados, mas não perdidos, que eles evocavam a memória dos espíritos amados que algumas vezes se manifestavam por meio das druidisas e dos bardos inspirados.
Henri Martin, na sua Histoire de France, volume I, página 71, assim se expressa:
“Tudo o que se relaciona à doutrina da morte e do renascimento periódico do mundo e de todos os seres parece estar concentrado na crença e nos ritos do primeiro de novembro.
Noite cheia de mistérios que o Druidismo legou para o Cristianismo e que o dobre de finados anuncia, ainda hoje, a todos os povos católicos esquecidos das origens desta antiga comemoração. Cada uma das grandes regiões do mundo galo-kímrico tinha um centro ou ambiente sagrado a cuja jurisdição correspondiam todas as partes do território confederado. Nesse centro queimava um fogo perpétuo que era chamado de “fogo-pai”.
Na noite de primeiro de novembro, conforme as tradições irlandesas, os druidas se reuniam em volta do “fogo-pai”, guardado por um pontífice forjador, e o extinguiam. A este sinal, pouco a pouco, se apagavam todos os fogos; por toda parte reinava um silêncio de morte, a natureza inteira parecia mergulhada em uma noite primitiva. De repente, o fogo brilhava de novo sobre a montanha santa e gritos de alegria rebentavam de todas as partes. A chama cedida pelo “fogo-pai” corria de foco em foco, de uma ponta a outra, e reanimava a vida em toda parte.”
* * *
À questão do culto dos mortos entre os celtas está ligada a lembrança de Carnac com seus monumentos megalíticos.
Todos os celtistas conhecem esta imensa necrópole, que se estendia por muitas léguas de comprimento desde Locmariaquer até Erdeven. Os alinhamentos de menires, hoje em parte destruídos, contavam ainda com milhares de pedras levantadas na Idade Média. Deve-se ver nessas longas filas sombrias outros tantos monumentos funerários? Tem-se duvidado, porque, nas escavações praticadas ao pé dos menires, somente foram encontrados raros fósseis humanos. Escavando-se mais profundamente, ter-se-ia encontrado mais ossadas. As grutas sepulcrais de Locmariaquer, os dolmens de Erdeven e de outros lugares não deixam dúvidas quanto ao destino desse vasto campo fúnebre. Os menires constituíam os túmulos de chefes políticos ou religiosos, enquanto que as grutas e os dolmens recebiam os restos mortais de personagens menos elevados na ordem social.
Na sua Histoire de la Gaule, Camille Jullian escreveu que os cortejos fúnebres se dirigiam para essa região vindos de vários pontos da Gália.
Qual era, então, o pensamento mestre que agrupava todos esses mortos na extremidade do continente? Muitos escritores tentaram descobri-lo, sem o conseguir. Entretanto, a explicação parece ser a seguinte:
Ante os horizontes infinitos do mar e do céu, acreditava-se, então, que o vôo das almas era mais fácil em direção desses mundos que brilham no além, no seio das noites, ou em direção aos lugares que se sombreiam, durante o entardecer, nas brumas do poente. Essas praias varridas pelas ondas, essas fronteiras de uma vastidão desconhecida tinham, para nossos antepassados, um caráter misterioso e sagrado.
Camille Jullian e outros historiadores atribuem o levantamento dos monumentos megalíticos a povos anteriores aos celtas e particularmente aos lígures, povo meridional de cabelos marrons e de pequena estatura. Ora, esses escritores esquecem que esses monumentos se elevam em todo o ocidente da Europa até nas Ilhas Órcades e Shetland, situadas na ponta extrema da Escócia, nas brumas do mar do Norte. Pode-se contar 145 monumentos em todo o arquipélago. O grupo de pedras de Stonehenge, na Câmbria, Inglaterra, compreende 144 pedras elevadas, formando um conjunto que parece ser o complemento dos alinhamentos de Carnac (França).
Pode-se também assinalar o “túmulo de Taliésin”, situado na base do maciço de Plynlimmon, cercado de dois círculos de pedras, e o grande dólmen da península de Gower, no País de Gales. Na entrada de Clyde todos os picos são rodeados por megálitos. Mencionamos ainda os monumentos da Escócia, chamados “Casa dos Pictos”; e na Irlanda, no Donegal, 67 pedras elevadas formando um grupo comparável ao de Stonehenge.
Nessas sepulturas – dolmens, grutas funerárias e túmulos pré-históricos de todas as dimensões – encontram-se objetos diversos misturados com restos humanos calcinados ou com esqueletos inteiros. São sílex brutos ou polidos, urnas, armas e até foices de ouro que serviam para o culto. Esses objetos pertenciam, portanto, a todas as épocas, desde priscas eras: paleolíticas, neolíticas, idades do bronze e do ferro. É preciso então atribuir esses vestígios aos celtas e não aos lígures ou pelasgos, povos pouco conhecidos, dos quais se ignora a língua e mesmo a localização exata.
Crer que esses monumentos sejam obra sua seria pretender que os gauleses, tão laboriosos e engenhosos em outras matérias, não tenham deixado nenhum rastro no país que eles habitaram durante séculos.
Os megálitos não consistem somente em sepulturas, mas também em monumentos consagrados ao culto. Os mais importantes são os “cromlechs”, ou círculos de pedras, no centro dos quais se ergue geralmente um grande menir. Alguns são duplos e triplos e representam, então, os três círculos da vida universal, conforme as indicações das Tríades. Nesses lugares praticavam-se os ritos divinos e se evocavam as almas dos mortos.
Entre essas pedras, algumas representavam o mesmo papel que o das mesas falantes de nossos dias e respondiam, pelos seus movimentos, às questões dos assistentes. Assim, o Manuel pour servir à l’étude de l’antiquité celtique, na página 253, cita a pedra falante “cloch labhrais”, que dava respostas, como a “lech lavar” dos gauleses.
Acrescentamos, que os autores antigos atribuíam aos druidas uma potente mágica, completamente esquecida atualmente, e da qual encontram-se somente resquícios nas práticas do hipnotismo, do magnetismo e do faquirismo. Plínio denominava os druidas de “Magi”, nome que lhes é constantemente dado nos textos latinos e irlandeses, afirma Dom Gougaud, beneditino inglês, no seu livro Les Chrétientés Celtiques.
Segundo esse autor, os druidas tinham os seguintes poderes: “condensações da neblina, precipitações atmosféricas, tempestades sobre o mar e sobre a terra, etc”. Ele acrescenta que “o druida Fraechan Mac Tenuisain protegia a armada do rei da Irlanda, Diarmait Mac Cerbaill contra o inimigo, por meio de uma barreira mágica (airbe druad) que ele traçou na frente dela. Todos os que atravessavam essa muralha fluídica eram feridos de morte. Todos os velhos textos irlandeses estão repletos de feitos semelhantes.”
Quase sempre, os círculos de pedras dos quais falamos estavam dispostos nas clareiras das florestas, porque, em matéria religiosa, a floresta sempre guarda para os celtas seu prestígio augusto e sagrado.
Na época dos druidas a natureza não estava ainda alterada pela influência nociva, pela corrente destruidora das paixões. Ela era como o grande médium, o intermediário poderoso entre o Céu e a Terra. Os druidas, sob a abóbada das árvores seculares, cujos cumes eram como antenas que atraíam as radiações do espaço, recebiam mais facilmente as intuições, as inspirações, os ensinos do alto. Ainda hoje, apesar de tantas destruições sofridas, a floresta não nos causa uma impressão salutar e reconfortante por seus eflúvios, uma espécie de dilatação da alma? É, pelo menos, o que eu experimentei tantas vezes.
Certas pessoas, perguntam-me como fazer para entrar em relação com o invisível. Sobre isso respondo: “Afastai-vos do barulho das cidades, entrai numa floresta, é na solidão dos grandes bosques que se julga melhor a vaidade das coisas humanas e a loucura das paixões. Nessas horas de recolhimento, parece que um diálogo interior se estabelece entre a alma humana e as potências do além. Todas as vozes da natureza se unem, os murmúrios que a Terra e o espaço sussurram para o ouvido atento, tudo nos fala das coisas divinas, nos esclarece com conselhos de sabedoria e nos ensina o dever. É o que dizia Joana d’Arc a seus interrogadores de Rouen que lhe perguntavam se ela ouvia sempre suas vozes: “O barulho das prisões me impede de as perceber, mas se me levarem para qualquer floresta eu as ouvirei bem.”
O mesmo ocorre com a ciência dos mundos; é uma fonte incomparável de elevação, porque ela nos revela todo o gênio do Criador. No interior dos recintos sagrados, os druidas se dedicavam a observações cuidadosas e para esse objetivo possuíam meios que provocavam a admiração dos antigos.
É um fato que o desfile imponente dos astros, durante as noites claras de inverno, torna-se um dos espetáculos mais impressionantes que a alma humana pode apreciar. Uma paz serena desce do espaço, parece que se está num imenso templo, o pensamento, então, se eleva num impulso mais rápido para essas regiões superiores e interroga esses milhares de mundos cujas sutis radiações parecem responder a seus apelos.
A aplicação das forças radiantes aos usos terrestres permite crer que uma transmissão, mesmo física, não é impossível através dos abismos do espaço.
As estradas do destino que nos são abertas nos ligam estreitamente a esse esplêndido Universo, do qual somos, como espíritos, um elemento imperecível; seu futuro é o nosso, nós prosseguimos com ele e nele está nossa evolução, nós participaremos de sua obra, de sua vida, de modo sempre crescente.



O Gênio Céltico e o Mundo Invisível
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